2.8.06

Velhas novidades musicais


Me identifiquei muito com o post do Rodrigo em que ele dizia que perdeu a paciência para a música pop há mais ou menos um ano. Porque eu nunca tinha pensado nesses termos, e no entanto foi isso mesmo aconteceu comigo: perdi a paciência. Só que há muito mais de um ano. Dou graças aos céus por me manter em contato muito próximo (graças às listas de email) com meus amigos da faculdade, que me mantêm a par do que se passa na, digamos, contemporaneidade musical pop, indie, roqueira etc. Aí às vezes quando falam muito de uma banda, vou lá e baixo algumas coisas, para ver do que estão falando. Até agora não gostei muito de nada, a não ser do Cake (que já tem bem uns, o que? uns seis anos, por aí, desde que descobri), que virei fã. E tem umas coisas bem inusitadas, como o Sigur Ros. Mas enfim, pelo menos fico sabendo dos nomes e das tendências.
Já o rock e a música pop brasileiras, sou um zero. Aquele rapaz do Detonautas que morreu num assalto, por exemplo. Não tenho a menor idéia do que seja uma música do Detonautas. Nem sabia que era uma banda muito famosa. Não conseguiria reconhecer um sucesso do Charlie Brown Junior. Nem mesmo do Rappa. Outro dia teve uma capa da revista de domingo do Globo sobre a "música chiclete" "Ai ai ai" da Vanessa da Mata. Hã? Nunca ouvi falar -- talvez se alguém me mostrar, eu reconheça e diga "ah, é essa?". Mas sou incapaz de ligar o nome à canção. Acho que minha última atitude digna de nota em prol do pop-rock nacional foi ter ido ao show do Legião Urbana no Jóquei, no dia (ou na semana, não lembro) da morte do Cazuza. Daí você tira uma idéia do tempo que faz. (Em tempo: tenho as melhores memórias desse show, que foi ótimo.)
Mas o que mais me espanta nos meus amigos super antenados é a disposição que eles têm para "coisas novas". Eles vivem fuçando a internet atrás de músicas novas, novidades, bandas novas, nomes novos, tudo novo. Ok, alguns deles são DJs e, vá lá, a profissão exige isso mesmo deles. Mas outros não, são novidadófilos por puro gosto.
Já eu sou o contrário. Adoro descobrir coisas novas, claro. Mas não vou atrás delas. Por um motivo simples. Tenho uma quantidade abissal de música "velha" para ouvir, para degustar, para deglutir. Digo ouvir, ouvir mesmo, prestando atenção. E não fazendo outra coisa, que é como a maioria das pessoas ouve música.
Em 2004 fui vítima do surto de conjuntivite que passou pelo Rio de Janeiro. Nos dois olhos. Então tive que ficar vários dias em casa sem poder fazer muita coisa a não ser ouvir música. Uma boa alma me deu de presente a então recém-lançada caixa com todos os discos da Clara Nunes, cantora da minha predileção. Tenho ouvido desde então. Mas ainda não consegui ouvir todos os discos da caixa com a devida atenção, porque é tanta coisa boa que fico repetindo o mesmo CD dias a fio. E falando na Clara, lembrei que no sábado passado estávamos quietos no nosso bar minúsculo favorito, tomando uma cerveja, quando, sem mais nem menos, adentrou bar adentro uma roda de samba completa, oito doidos que tinham vindo de São Paulo visitar Paquetá (!) e cantar samba pelo caminho. Aportaram lá graças a uma cantora amiga, que lhes mostrou Paquetá. (Essas coisas surreais que acontecem e se não tem uma pessoa pra te confirmar no dia seguinte você acha que sonhou.) São uns caras que conhecem mais ou menos todos os sambas mais obscuros da Portela, graças a umas fitas cassete que, sabe-se lá como, foram parar nas mãos deles. E aí deu aquela vontade de ouvir os discos todos que eu tenho da Velha Guarda da Portela, em especial aquele primeiro, produzido pelo Paulinho da Viola. Então, lógico, toca a resgatar os discos do Paulinho, que eu os tenho todos. Paulinho que, como se sabe, é casado com uma irmã do Raphael Rabello, cujos discos todos estão saindo aos poucos em CD. E aí eu pergunto: como não ouvi-los várias e várias vezes, com a máxima atenção? E do Raphael é um pulo passar para o Radamés Gnattali, cujo centenário se comemora neste 2006, então é o ano para ouvir tantas tantas coisas lindas escritas pelo Radamés, como muitos arranjos feitos para o Orlando Silva, que tem uma caixa com três CDs lançada anos atrás que é pérola atrás de pérola...
Eis aí o meu drama. Uma parte dele.
A música estrangeira e a clássica ficam para um próximo post...

Imagem: Lou Dufrane (ldufrane.com)

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Anna!
Gosto de música, mas sou fraquin, fraquin, no assunto...
Pelo que conheço do carta que me mandou a carta, aquilo deve mesmo ser Paulinho da Viola.
Tô tentando descobrir e postar a letra toda.
Beijo.

Bela disse...

Anna, meu bem, que que vc ta fazendo ai que ainda não caiu no Multiply!?
Lá a gente compartilha as musicas da gente com os outros. Vc vai gostar, tenho certeza. Olha o link ai: www.multiply.com, o meu é belacaleidoscopica.multiply.com e lá nos meus contatos tem a Beth, que tem a melhor vitrola da web, for sure!
Vai lá!
beijos

Anônimo disse...

Não consigo também ficar musicalmente antenada... talvez porque antena sintonize qualquer coisa. E minha alma pede mais que qualquer coisa quando se trata de música.