8.12.06

As roubadas em que eu me meto – capítulo 8.542

Movida pela culpa, fui ontem à formatura de Cunhado nº 3 – o caçula. Sim, movida pela culpa de não ter lido a monografia que ele me mandou, de nunca perguntar sobre a faculdade, de não dar muita bola para a sua/dele vida pessoal, por não ter paciência para os seus problemas etc.
Formatura é aquele programa que, por princípio, ninguém merece. Só os formandos acham graça – e, vá lá, os pais se emocionam, e tal e coisa. Não era uma daquelas formaturas cheias de pompa, mega-evento, como são normalmente as de medicina, engenharia, direito e demais carreiras tradicionais. Porque, se eu ainda não disse, Cunhado nº 3 se formou em musicoterapia.
Parafraseando o nome de blog mais engraçado que eu vi nos últimos tempos, “gente, foi horrível!” (Tá, tá, exagero, não foi tão "horrível", mas não podia perder a chance de usar essa tirada.)
Eram 12 formandos (10 mulheres e 2 homens), incluindo uma senhora que deveria ter por volta de 75 anos e que, verdade seja dita, foi a coisa mais legal da noite.
O evento estava marcado para as 18h30. Eu, me sentindo “a” malandra, cheguei lá 19h45, crente que ia fazer um bonito de aparecer, posar de “presente” na família, já que marido querido está viajando, e aturar uns quinze minutinhos de cerimônia. (Porque meus planos originais ainda incluíam ir ao supermercado depois.) Quando cheguei, o auditório totalmente lotado, passava um vídeo de homenagem a algum professor (que provavelmente morreu ou foi embora) e os formandos cantavam “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito” acompanhados por um solitário violino. Je-sus. Como estava muito cheio, tratei de ficar atrás de todo mundo, sentada numa escadinha, onde daria até para sacar meu MP3 player e ficar ouvindo, bem autista, sem chamar muita atenção. Mas não deu certo, porque Sogrinha me viu e começou a acenar enfaticamente, e não tive jeito a não ser sentar numa cadeirinha que ela, fofa, tinha guardado ao lado dela. Assisti ao discurso que a paraninfa leu. Discurso lido eu acho péssimo. (“Foi com imensa surpresa que recebi o convite para ser paraninfa dessa turma, convite feito no meio do burburinho dos corredores...”) Mas não contente, tinha uns trechos que ela cantava. Teve também uma série de esquetes teatrais feitas pelos formandos em que eles imitavam os professores. Assim, uma homenagem, sabe? Eles riram muito, mas naturalmente 95% dos presentes, que nunca tiveram aulas com aqueles mestres, não entenderam nada. Depois teve um número musical para cada professor. E olha, enquanto instrumentistas esses formandos são ótimos musicoterapeutas. Teve entrega dos diplomas, um a um, com videozinhos de cada um. Teve discurso de agradecimento, de cada um (e pelo menos 10 dos 12 foram assim: “queria agradecer, em primeiro lugar a Deus, blablabla, em seguida, à minha família, minha mãe, meu pai, porque se não fosse por eles... – choro – e a essa turma maravilhosa, que é minha segunda família etc etc.”). Teve juramento em frente à bandeira nacional (que tremulava no vídeo, numa animação que me deixou meio tonta). Teve música até para agradecer aos funcionários!
Cunhado nº 1, muito mais sagaz do que eu, chegou às 20h50. Às 21h eles estavam começando a se auto-homenagear musicalmente, isto é, todos cantavam e tocavam uma música para cada um. (Já falei que eles tocam super mal? Ah, já, né?) E eram músicas do Raul Seixas, Caetano Veloso, do Clube da Esquina (Alô Arembepe! Alô Mauá!). Sim, tinha esse clima hippie que não posso deixar de mencionar. Eles estavam todos descalços. E as moças todas de vestidos longos, mas não vestidos de gala, e sim vestidos ou saias hippies até os pés. Só tinha uma que estava de gala, e era a única destoante que não estava descalça porque estava com uma sandália de salto com pedrinhas de strass, que combinava com o vestido e com o cabelão até a cintura. Até a senhora de 75 anos estava descalça. Sogrinha estava emocionada, e só se abalava quando tocava o celular do Sogrinho (vááárias vezes) e ele incrivelmente atendia e se punha a falar com alguém, alto e meio sem loção.
O negócio foi acabar lá pelas 21h40, com todos eles cantando nem sei mais o quê e abraçados numa rodinha chorando. Aplausos, aplausos. A essa altura meu supermercado já tinha ido pro espaço.
Seguimos então para o programa família, sem o nobre formando, que, naturalmente, foi comemorar com seus pares. Pizza. No restaurante que ele sabe que eu detesto. Mas que a gente sabe que não tem jeito, é o preferido da família mesmo. E até a pizza que faz a fama do lugar estava péssima. O que salvou foram as maravilhosas histórias do Tio, desta vez contando como tinha sido o surreal resgate dos brasileiros no Líbano em agosto deste ano, quando da guerra com Israel. (Merece um post à parte.)
É em horas como essa que eu faço um esforço maior para acreditar naquela esparrela de que há um julgamento final e que todos seremos julgados de acordo com nossos atos. Porque eu estou acumulando uma porção de pontos.

5 comentários:

Maria Fabriani disse...

Gente, que sacrifício! Nossa, acho que eu não aguentaria tantos hippies juntos no mesmo espaco.

Anônimo disse...

Hahahahaha. Desculpe, tenho o péssimo hábito de achar engraçadíssimas essas crônica de sofrimento.

Mas que pessoal sem noção, hein?

anna v. disse...

Pois é. A vantagem de ter um blog é que em situações roubada como esta você já fica pensando em como aquilo pode virar um bom post.

Anônimo disse...

Ahahaha,(me permita rir tb),mas que programão de índio!!e concordo plenamente com a Maria Fabriani. Realmente, formatura só é legal para quem forma(e olhe lá) e para os pais.

PS: tb vi sua foto nas fotos do lançamento do livro da Marina W. :) Vc é totalmente diferente do que eu imaginava, mas agora já me acostumei :) É legal saber o rosto que tem a pessoa que nos escreve(na verdade, acho que vc não escreve pra nós, mas enfim, vc entendeu, né?).
Ah, e o livro dela só chegou hj pra mim(acho que esse problema com os controladores do tráfego aéreo está atrasando tudo, mesmo que seja Sedex); mas já comecei a ler e a vontade é de não parar mais.Vou ler rapidão.

anna v. disse...

Pois é, Jussara, você vê, cai por terra minhas pretensões ao anonimato.:-) Ninguém nunca é como o outro imagina. E acho isso uma grande graça do mundo da palavra escrita. Mas enfim, tem sempre um ser humano do outro lado do teclado, por incrível que pareça.