14.10.06

Barreira da Orla Marítima Carioca

Ipanema por bossa67, via flickr
"De onde dá para se ir, no Arpoador, (...) até a subida para a Niemeyer, é uma jaula só. Pobres ricos, pobres elites, pobres classes dominantes: tudo vivendo atrás de grades, guardadas por nordestinos incompetentes com calça azul-marinho e camisa branca puídas. Visualizo as classes abastecidas, à noite, uivando em seu cativeiro. Os porteiros fingindo não ouvir, afiando suas peixeiras.
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Teve o muro de Berlim, há a menos divulgada muralha erguida por Israel e a ainda mais invisível Barreira da Orla Marítima Carioca. À noitinha, camionetas (chamadas agora de "van") passam pela Vieira Souto e Delfim Moreira e gritam nomes, para mim cabalísticos, que serão amanhã documentários e filmes premiados com palmas, leões de ouro e oscars: "Cunhataí, Serependi, Nove Cabeças, Xerebendim" e por aí afora. Tem gente, ou quase gente, entrando e indo. Parece que é a outra parte da vida deles. Parecem palestinos com sua trabalheira para -- inevitável a construção verbal -- irem trabalhar."

Ivan Lessa, voltando ao Rio de Janeiro depois de 28 anos, 6 meses e 7 dias, em texto escrito para o nº 1 da revista piauí (nas bancas).

2 comentários:

Anônimo disse...

anna v., fico espantada vendo como o mundo inteiro, o planeta completo, fez tanta festa pra queda do muro de berlim e agora nem ligamos para a construçao das cercas na faixa de gaza, na fronteira méxico/USA e, pior, para essas invisíveis em todo lugar.

anna v. disse...

vera, eu também não entendo o silêncio a respeito dos novos muros. os invisíveis podem até entrar na conta da hipocrisia humana. mas os de concreto, depois de tudo por que passamos no último século, não dá mesmo pra entender.