20.7.06

Amor como doença

O comentário do Camilo sobre o post das mulheres bandidas apaixonadas me fez lembrar uma outra coisa que também me intrigava naquela finada novela. Havia uma personagem, interpretada pela Giulia Gam, que tinha um ciúme patológico do marido (se não me engano, Marcelo Anthony, ou algum outro bonitão desse estilo). No meio da novela, ela percebia que sofria de uma doença, que ela amava demais o marido. Tinha até mesmo um grupo de apoio, MADA, Mulheres que Amam Demais Anônimas. Naturalmente, a coisa virou um fenômeno social, e de uma hora para outra milhares de mulheres passaram a acreditar que sofriam dessa doença, a doença do amor demais. No site do MADA há a explicação: "MADA é um programa de recuperação para mulheres que têm como objetivo primordial se recuperar da dependência de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se relacionar de forma saudável consigo mesma e com os outros." Ok, é uma causa válida, realmente há um tanto de mulheres que se podem considerar dependentes de relacionamentos destrutivos. Meu problema é com o nome, Mulheres que Amam Demais. Porque amar demais não é uma doença, não é um problema, nunca foi. O que quer que seja que liga essas mulheres aos seus relacionamentos doentios não pode ser considerado amor, é uma outra coisa -- carência, insegurança, baixa auto-estima, masoquismo, etc.
Mas o que me chama a atenção é o modismo das doenças. Na época da novela, quem tinha um problema conjugal diagnosticava logo: "Ah, é porque eu amo demais o meu marido, sofro do transtorno do amor demasiado". E essa busca pela identificação, pelo pertencimento a um grupo (o grupo das mulheres que amam demais), gera essas discrepâncias. Houve a moda da Síndrome do Pânico. Antes, ninguém nunca tinha ouvido falar. Bastou a doença entrar na moda para você ficar sabendo de um monte de gente que sofria de Pânico, que estava se tratando e tal. Depois, o TOC, a mesma coisa. Agora a doença da moda é a bipolaridade, ou transtorno bipolar, novo nome para psicose maníaco-depressiva. Então se você está contente num dia e no dia seguinte amanhece de mau humor ou angustiado, iiihh, olha aí, que comportamento bipolar...
Sem entrar no mérito da seriedade dessas doenças, o que mais me impressiona é como as pessoas não hesitam em "aderir" a elas conforme entram na moda. E principalmente, por meio do consumo. A pessoa se convence que é bipolar, começa a se medicar (ou seja, a comprar remédios), e passa a se sentir melhor.
É pra pensar mesmo, em como nem mesmo o amor, nem mesmo a saúde passaram incólumes pela mediação do consumo nessa sociedade estranha em que a gente vive.

6 comentários:

Anônimo disse...

Falou e disse tudo. Por isso que parei de ver certas reportagens no Fantástico, Globo Reporter, Domingo Espetacular e afins... Não quero ficar doente - hehehe.

Bela disse...

Anna, uma coisa é eu me considerar, auto-avaliar e auto-diagnosticar como sendo qualquer coisa entre DDA e TOC, passando por bipolar...outra coisa é uma enxurrada de profissionais formados sairem disseminando isso por ai como vírus. Isso é o que mais me preocupa. Onde acaba a atualização profissional e onde começa o profissionalismo ético desses caras?
E a gente fica na mãe deles...socorro!
Beijos

anna v. disse...

Bela, é verdade. Impressiona como os médicos caem nessas histórias e inventam epidemias de doenças "psicológicas". Talvez eles no fundo queiram satisfazer o desejo oculto dos pacientes de terem a doença da moda, e estar, de alguma forma, "na crista da onda". Ah, não sei, as pessoas são mesmo muito estranhas.

Vaca disse...

ih, concooordo, ja ate escrevi sobre isso. tem outra moda, no meu entender, tb perigosa. a de diagnosticar crianca com hiperatividade. agora ninguem mais eh levado ou simplesmente mal educado. é doentinho. e tacam ritalina nos bichinhos. e os pais, continuam sem educar os filhotinhos pentelhos. foooda.
aaah, lembra da epoca da sindrome de panico?

anna v. disse...

é isso, ângela. modismos. não existe mais criança levada da breca (que é uma expressão tão maravilhosa!).

Anônimo disse...

Acho que ela se amava de menos. Até hoje penso isso.